Jéssica Moreira - No chão do consultório,
Gabryel Oliveira (7), se diverte assistindo vídeos pelo celular da mãe enquanto
o Dr. João Gabriel Daher faz várias
perguntas acerca do comportamento do menino. Essa é a terceira consulta da
família com o geneticista, que voltou a atender gratuitamente a população de
Queimados esta semana, no CETHID (Centro Integrado de Tratamento de Hipertensão
e Diabetes).
A averiguação é baseada na suspeita da Síndrome do X
Frágil - defeito no cromossomo X, o qual contém a causa mais
frequente do comprometimento intelectual com caráter hereditário, afetando o
desenvolvimento intelectual e o comportamento -, por isso, exames são pedidos e,
uma nova consulta, agendada.
Para a mãe de Gabryel,
Polyana Oliveira (29), a suspeita foi crescendo ao longo dos primeiros anos de
vida do menino: “Ele falava normalmente, como qualquer criança e, de repente,
parou. Parou também de olhar nos olhos das pessoas. Então fomos passando de
psicóloga a psiquiatra até finalmente chegarmos a um médico especializado em
doenças raras. A sensação agora é de alívio por ter acesso a esse tipo de
tratamento”, contou a gari, que mora no bairro Granja Alzira.
Na rede privada, o custo
de uma consulta com um geneticista varia entre R$800 e R$1200 e tem uma fila
grande espera. De acordo com o Dr. João Gabriel, o campo sofre por conta da
escassez de especialistas: são apenas 241 médicos geneticistas em atividade no
país.
“São 8 mil tipos de
doenças raras que, na grande maioria, não apresentam tratamento medicamentoso,
mas que precisam de um suporte contínuo do médico. São de difícil diagnóstico,
muitas vezes incapacitantes, progressivas e fatais, que afetam tanto crianças
como adultos”, afirmou o médico que é natural do município de Santo Antônio de Pádua, no Noroeste do Estado, mas que, ainda no começo da carreira,
decidiu dedicar seus esforços para atender a região da Baixada Fluminense.
“Quando trabalhava no
Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro, percebi que 99% dos
pacientes vinham da Baixada. Sempre busquei interação junto às famílias e, assim,
pude perceber as dificuldades de locomoção, o emprego de tempo e dinheiro para
comparecer às consultas. Foi quando pensei em trazer esse atendimento
especializado para mais perto de quem precisa dele”, contou.
De acordo com o
especialista, o tratamento das doenças raras envolve, além do suporte clínico
interdisciplinar (neurologia, neuropediatria, pediatria e genética), o
acompanhamento multidisciplinar (fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia e
psicopedagogia, por exemplo).
Ciente desta demanda, a Secretaria
Municipal de Saúde vem desenvolvendo, desde o início de 2016, o serviço de
genética em Queimados – onde estima-se haver cerca de 12 mil portadores de
doenças desta ordem.
De acordo com a Secretária
Municipal da Pasta, Drª Lívia Guedes, uma das principais metas do ambulatório é
realizar um trabalho de mapeamento clínico da família dos pacientes para
diagnosticar e tratar possíveis casos similares transmitidos geneticamente.
“Temos casos mais comuns,
como a Síndrome de Down, e outros raros, que acometem um indivíduo em cada 200,
500 mil nascimentos. É um número grande de pacientes e famílias que precisam
desse serviço com urgência e agora podem ter acesso a um tratamento de ponta no
próprio município onde residem”, declarou a gestora.
A marcação de consultas com
o especialista - único
da área em atividade na Baixada Fluminense – pode ser feita por meio do setor de
regulação do município, que fica no prédio anexo ao CETHID (Rua Onze, s/n - Pacaembu,
Queimados ), onde funciona o Centro Médico da Pedreira.
Diagnóstico
precoce, tratamento importado
Logo aos 6 dias de vida, o
pequeno Maxuel do Nascimento teve que enfrentar a morte da mãe, que seria
apenas um dos vários obstáculos que a vida ainda iria lhe apresentar. Hoje com
5 anos de idade, a luta é outra, dessa vez contra a mucopolissacaridose (MPSII,
também conhecida como Sindrome
de Hunter), doença rara causada por uma informação genética incorreta que leva à falha de
produção de uma substância (enzima) importante para certas reações químicas no
organismo.
Traços faciais desproporcionais, infecções respiratórias
recorrentes e coriza crônica (secreção nasal constante) foram alguns dos
sintomas observados ao longo dos primeiros anos de vida pela tia do menino,
Maria Cristina do Nascimento, e que causaram suspeita numa pediatra da rede
municipal de saúde de Queimados.
“Ele também começou a ter dificuldade para mexer os membros,
o que nos preocupou muito. Então, a doutora que o acompanhava falou sobre o
serviço de genética que estava sendo oferecido no CETHID. Procurei atendimento
e o diagnóstico foi ficando mais claro”, contou a costureira.
Por meio da consulta com o geneticista João Gabriel Daher, Maxuel
pôde ter o sangue coletado e enviado a um laboratório da Alemanha no ano
passado, procedimento que confirmou a síndrome e possibilitou o início do tratamento
correto.
“Graças ao nosso contato
com o Instituto Casa Hunter (uma ONG em São Paulo onde o material foi colhido)
pudemos enviar a amostra para o único local capaz de precisar o tipo de
desordem genética causadora dessa doença. Agora, estamos aguardando a chegada
do medicamento comprado pelo Ministério da Saúde para iniciar a terapia de
reposição enzimática, que dará a ele uma qualidade de vida muito melhor”,
afirmou.
De acordo com a Secretária
de Saúde, Dra. Lívia Guedes, a medicação foi importada da Ásia e custou cerca
de R$1 milhão ao Governo Federal: “Vislumbramos,
a médio e longo prazo, oferecer um serviço de referência na Baixada Fluminense.
E esse tipo de comunicação entre o nosso geneticista e os profissionais
corretos vão possibilitar esse tratamento tão caro e necessário ao Maxuel”,
afirmou.
Para o Dr. João Gabriel,
cada novo diagnóstico, tratamento e evolução servem para melhorar
significativamente a vida de seus pacientes. “Amo o que faço, as famílias
percebem isso e entregam seus bens mais preciosos aos meus cuidados e da minha
equipe. Prezamos muito pela parte do acolhimento a essas pessoas. As famílias
necessitam de muita informação, em maioria, técnica, então é preciso paciência
e interação para um melhor entendimento”, declarou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
deixe aqui seu comentário sobre esta notícia.