terça-feira, 8 de maio de 2018

Dia das Mães: Cuidadora adota criança acolhida em abrigo municipal e realiza o sonho da maternidade

Após perder filho biológico, moradora do bairro São Francisco consegue guarda provisória para a adoção e terá domingo especial ao lado do filho do coração
Marina Mendes - Adotar uma criança, amar incondicionalmente, cuidar e ser responsável por alguém que sequer viu nascer. Assim bate o coração da cuidadora Humbelina Alaíde, de 54 anos, moradora do bairro São Francisco. Sem a possibilidade de gerar por meios naturais, ela obteve em abril deste ano a guarda provisória para a adoção do pequeno João Victor, de apenas 5 anos – acolhido pelo Abrigo Municipal de Queimados – e no próximo domingo (11) vai passar o primeiro dia das mães ao lado do  filho do coração.
Há 12 anos, dona Humbelina perdeu o filho biológico após complicações no parto. Porém, não desistiu da dádiva de ser mãe. Em 2012, ela e o marido Leandro dos Santos, de 43 anos, deram entrada no processo de adoção no fórum de justiça e em novembro do ano passado tiveram o primeiro contato com o menino João, acolhido há quase dois anos pelo Abrigo Municipal de Queimados, mantido pela prefeitura. “Meu dia das mães será mais que especial. No primeiro abraço que dei no João já brotou um sentimento diferente. Foi muito emocionante, assim como será meu domingo com a família”, disse.
Os anos de espera não foram fáceis. Foram muitas idas ao Fórum de Justiça, em que o casal participou de palestras e cursos durante meses, para se prepararem para o grande momento. Dona Humbelina foi persistente e quando menos esperava o telefone tocou com a notícia de que tinha uma criança que se encaixava no perfil procurado pela família. “Eu já estava tanto tempo esperando, que o meu cadastro passou da validade. Tinha que atualizá-lo com frequência.  Quando me ligaram, saí correndo para resolver tudo, era o momento de conhecer meu filho, de ser mãe”, contou emocionada.
No começo, as visitas eram apenas uma vez por semana, o suficiente para despertar a relação entre mãe e filho. Após, foram permitidas também os encontros aos fins de semana na casa do casal. Assim como Humbelina e Leandro estavam se adaptando a ideia e as preocupações do dia a dia em ter um filho, João também se acostumava com o novo lar e a nova família.
Com uma história marcada pela violação de direitos e pelo abandono desde o nascimento, o menino nunca teve uma referência familiar, e isso o tornava por vezes, agressivo, “o que não excluía o fato de ser uma criança extremamente inteligente”, explica a psicóloga do Abrigo Municipal, Carolina Bissoli.

Abrigo de Queimados registra mais de 800 acolhimentos


De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção, 8.672 crianças e adolescentes aguardam pela mesma chance de João nos abrigos do Brasil. São 43.730 pais na fila e essa disparidade existe por dois motivos - tramitação do processo e as exigências das famílias. Em Queimados, na Baixada Fluminense, o Abrigo Municipal, que é administrado pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, conta com o histórico de 815 crianças e adolescentes acolhidos, com apenas 10% sendo realmente órfãos.
A moradia, que tem caráter excepcional e provisório, inclui o direito do abrigado de manter relação com seus familiares sob condições que variam caso a caso, sendo a adoção assim, o último recurso da assistência social.
Para auxiliar na superação e na construção de uma boa saúde mental no pós-trauma, todos os acolhidos recebem apoio tanto psicológico quanto na educação, através da rede pública do município, para tentar amenizar as marcas do período de sofrimento.
De acordo com a Coordenadora do Abrigo, Júlia Pessoa, as exigências de um perfil pré-definido, por sua vez, podem dificultar os processos de adoção. “Em algumas vezes, as pessoas buscam um filho ideal, além de quererem sempre o bebê. Com esse tipo de pensamento, alguns pais julgam como adoção tardia até uma criança de 5 anos, que era o caso do João, considerando que não conseguiriam acolher e educar por causa da idade”, afirmou a assistente social.
As crianças e adolescentes são encaminhados ao abrigo por meio do Conselho Tutelar e amparados pela Vara da Infância e Adolescência. Assim que chegam ao local, recebem atendimentos básicos de higiene e alimentação.
Com a adaptação gradual ao ambiente, são feitas avaliações psicossociais para que a equipe elabore um plano individual que supra as demandas do assistido. Apesar de todas as necessidades serem supridas pela Prefeitura Municipal de Queimados, a Instituição está aberta à doação de brinquedos, roupas, sapatos, etc. O Abrigo fica na Rua Maria Clara, s/n, no bairro Fanchem, com o telefone de contato: 2665-2722.

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