Diversas atividades lembraram a data no último domingo. Roda de conversa debateu a importância do negro na sociedade
Fotos: Igor Lima/SEMCOM
André Uchôa - As comemorações em alusão aos 131 anos da abolição da escravatura tiveram destaque em Queimados. A Prefeitura de Queimados, por meio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Promoção da Cidadania, promoveu neste domingo (2), no auditório do Centro de Esporte e Lazer da Terceira Idade, uma Mesa Redonda sobre o tema ‘Onde estão os negros? Onde estão as comunidades tradicionais de matrizes africanas?”. O evento reuniu cerca de 150 pessoas com a presença de historiadores, representantes de Matrizes Africanas, além da participação da sociedade civil e poder público.
O dia 13 de maio, não é apenas uma data comemorativa pela libertação dos escravos. Antes de tudo é o momento para reflexão sobre as lutas do povo negro no Brasil, que foram em buscas de seus direitos, dignidade, vida e, acima disso, o respeito. E, hoje, reafirmam o lugar de protagonismo na construção de uma identidade e representatividade social. Mas, quase um século e meio depois, a cor da pele ainda é um componente central das desigualdades no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em 2017, negros ganham 1,2 mil a menos que os brancos no Brasil.Os dados são do 4º trimestre de 2017, divulgados em 2018, e fazem parte da Pnad Trimestral, que disponibiliza informações desde 2012.
Decorrente da sanção da Lei nº 3.353, conhecida como Lei Áurea, que decidiu definitivamente libertar o povo escravo da mão de obra barata, a iniciativa teve como objetivo promover um debate sobre a visão da população negra sobre o fim da escravidão. “O Brasil foi o último país a fazer o processo da abolição da escravatura. É por este motivo que estamos aqui, pois é fundamental que exista esse debate para refletir esse processo tão demorado. Infelizmente, ainda sofremos as consequências do escravismo com atos de racismos e preconceitos que é uma realidade do pais”, frisou o Secretário Municipal de Direitos Humanos e Promoção da Cidadania, Luis Macedo.
Durante a programação o publico participou com perguntas à Mesa Redonda formada pelos palestrantes João Gomes Júnior (historiador, pesquisador e militante LGBTQi+), Joile Santana (pós-graduanda em história e cultura africana e Afro-Brasileira) e Ellen Rosa (Professora e Doutoranda em Filosofia), mediada pela coordenadora do Projeto Golfinhos da Baixada, Gisele Castro. Além de um intenso debate, os presentes assistiram a exposição do livro “O Sagrado e o profano: Vivências negras para o Rio de Janeiro” da historiadora Nilma Teixeira Accioli e da apresentação de Capoeira organizada pelo Mestre Sampaio, seguido da deliciosa feijoada ao som do grupo de Samba Som do Crioulo.
Para o historiador, João Gomes, o processo que culminou na libertação dos africanos escravizados vai além da assinatura da Lei Áurea: “Os livros didáticos de História colocam a princesa Isabel como heroína da libertação dos negros do trabalho escravo para as nossas crianças nos colégios, reproduzindo uma versão racista dos fatos. Na verdade, a escravidão só teve fim não por vontade da princesa, mas por consequência das transformações sociais e econômicos do século 19, seguidos de revoltas, fuga dos quilombos, suicídios, que causaram prejuízos para o sistema, levando-a ao seu fim. Se a escravidão teve seu fim há cerca de 131 anos, no cenário atual não há ainda o que se comemorar”, frisou.
Quem aprovou a iniciativa foi a servidora pública, Kátia Silene (51), representante de Matrizes Africanas, elogiou a iniciativa: “Esse encontro é de suma importância, entre as pessoas de raízes africanas com pessoas de outras denominações e políticos, para refletir sobre o tema. Apesar de se passar 131 anos da Abolição, eu ainda não acredito, ainda sinto na pele o preconceito e o racismo da sociedade, mas tenho muito orgulho de dizer que sou uma mulher negra e que venci pelos meus méritos.”, afirmou a moradora do bairro Vila Dona Branca.
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