quinta-feira, 27 de março de 2014

Queimados relembra os nove anos da maior chacina da Baixada


Caminhada de 2013 reuniu mais de 2 mil pessoas
Dine Estela: Para destacar os nove anos de perdas e danos das famílias que ficaram sem os entes queridos, em sua maioria, jovens e estudantes que foram mortos brutalmente por policiais militares pelas ruas das cidades de Queimados e Nova Iguaçu em 2005, totalizando 29 mortes, a igreja católica irá organizar mais uma grande caminhada pela paz e missas em memória destas vítimas. O evento será realizado no próximo sábado, 29, às 18h, na Igreja Nossa Senhora da Conceição (Avenida Marinho Hemetério de Oliveira, s/n, Centro, em frente ao Cemitério Central). Depois da primeira missa haverá a caminhada em direção a antiga Matriz que fica na Praça Nossa Senhora da Conceição onde haverá outro ato penitencial. Fazem parte da organização do evento, a IX Diocese de Nova Iguaçu, constituídas pelas paróquias Nossa Senhora de Fátima, São Francisco, São João Batista e Nossa Senhora da Conceição.

Segundo o padre João Serra, da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, o ato não é somente para destacar a dor dos parentes, mas para convencer a sociedade de que se precisa proteger mais os indefesos. “A cada ano, as caminhadas ficam cada vez maiores e denotam como a sociedade precisa cuidar mais da segurança pública”, observou o padre que já está no Brasil há mais de 30 anos.

Eraldo Nilton participou da comissão de segurança
 e relembra as sentenças como uma vitória da sociedade
O poder público será representado pelo secretário de governo e vice presidente a ordem dos advogados do Brasil na cidade, o Pastor Eraldo Nilton de Carvalho que também fez parte de uma comissão que deu apoio a estas famílias. “Todos os envolvidos foram severamente punidos e receberam penas centenárias, no entanto, sabemos que um preso ficará no máximo uns 30 anos presos”, ressaltou o secretário.

A chacina da Baixada entrou para história como um dos maiores crimes já acontecidos no estado do Rio de Janeiro. Policiais militares percorreram de carro as ruas dos municípios de Queimados e Nova Iguaçu, disparando contra pedestres e causando 29 mortos. Entre as vítimas estão Renato de Azevedo, que estava com 30 anos, quando foi assassinado brutalmente recebendo um tiro no rosto, na hora que fechava o portão de seu lava-jato e Raphael Silva, que morreu aos 17 anos com um tiro na nuca, quando voltava para casa de bicicleta. 

Silvania Azevedo, 35, participa todos os anos da missa e da caminhada pela paz. Ela falou sobre o sentimento que guarda após 8 anos da morte do seu irmão Renato. “Não tem como descrever o sentimento que fica. A saudade faz com que a dor só aumente. O tempo nunca vai apagar ele do meu coração”, contou. A mãe de Raphael, Luciene Silva, 47, representa as vítimas do município de Nova Iguaçu. Ela faz questão de comparecer a atividade para homenagear o filho e pedir paz para as pessoas. “Participo todos os anos da missa pela paz, que serve para as pessoas não esquecerem o que aconteceu e para mostrar que juntos podemos transformar nossa realidade”, afirmou.

Todos os acusados já foram julgados e condenados

Depois de quatro anos de julgamentos e recursos, enfim na madrugada de quarta-feira (16/09/2009) terminou o julgamento dos policiais militares Júlio César Amaral de Paula, Marcos Siqueira Costa e Ivonei de Souza, os últimos acusados de participação na Chacina da Baixada que restavam a ser julgados.

Amaral e Siqueira foram condenados por 29 homicídios qualificados, uma tentativa de homicídio e formação de quadrilha, recebendo penas de 480 e 542 anos de prisão, respectivamente, sem direito a recorrer em liberdade. A juíza Elizabeth Machado Louro, titular da 4ª Vara Criminal e presidente do Tribunal do Júri de Nova Iguaçu na época, incluiu a perda de cargo público dos dois condenados na sentença, por entender que o afastamento da PM havia sido comunicado de forma imprópria e vaga à Justiça pela polícia.
O terceiro acusado, o cabo Ivonei, apesar de ter vários antecedentes e indícios de participação em grupo de extermínio na Baixada, teve sua absolvição pedida pelo, próprio MP, por não terem se produzido provas que o ligassem ao restante do grupo, formado por Amaral, Siqueira, e outros três já condenados, os policiais Carvalho, Felipe e Fabiano, além do sargento Gilmar Simão, que foi beneficiado pela delação premiada mas acabou assassinado.

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